A gestão de riscos na execução de projetos das Organizações da Sociedade Civil (OSC) é, hoje, uma das competências mais estratégicas para garantir não apenas a sobrevivência institucional, mas também a legitimidade e a eficácia das ações desenvolvidas. Em um cenário marcado por incertezas, mudanças regulatórias constantes e crescente exigência por transparência, as OSCs precisam ir além do entusiasmo pela causa e incorporar práticas sólidas de planejamento e controle.
Na nossa experiência aqui na Associativa LGRC Consultoria, temos observado que muitos projetos fracassam não por falta de propósito, mas por falhas estruturais que poderiam ser evitadas com uma abordagem preventiva e sistemática de gestão de riscos.
A ausência de planejamento adequado é uma das principais fontes de vulnerabilidade. Projetos mal escritos e mal elaborados não apenas comprometem os resultados esperados, mas também colocam em risco a reputação da organização perante patrocinadores, parceiros e a sociedade em geral e, podendo afetar até mesmo a forma como os próprios diretores e colaboradores veem a organização. E isso é especialmente crítico porque, como temos visto em diversas consultorias, os patrocinadores costumam contar com equipes técnicas capazes de identificar inconsistências e fragilidades no desenho dos projetos.
Quando isso acontece, o projeto não apenas perde apoio financeiro, mas também gera frustração interna e externa, além de abrir margem para riscos financeiros como inadimplência e descontinuidade de ações. Por isso entendemos que a gestão de riscos deve ser incorporada desde o primeiro rascunho de qualquer iniciativa.
Por óbvio que a maioria das organizações não possuem uma estrutura grande o suficiente para fazer uma ampla gestão dos riscos, mas adotar algumas boas práticas pode ser muito eficaz para evitar resultados desastrosos.
Nesse sentido, destaca-se um dos erros mais recorrentes que identificamos que é o uso de premissas não testadas como base para decisões estratégicas. É comum, por exemplo, que uma OSC decida lançar um produto ou serviço com base em um caso isolado de sucesso, sem realizar estudos de viabilidade ou sondagens de mercado. Aqui na Associativa LGRC Consultoria, gostamos de usar a analogia das equações matemáticas: quando se trata uma variável como se fosse uma constante, o erro se propaga e compromete todo o resultado. Se o projeto é vender um jornal impresso feito pela associação, mas não se mede previamente a aceitação do público ao formato impresso, está se assumindo como garantido algo que é, na verdade, incerto. Essa lógica falha é uma das principais causas de baixa adesão, desperdício de recursos e frustração institucional.
Além disso, a elaboração de cronogramas irreais ou mal estruturados é outro ponto crítico. A subestimação de prazos, a falta de alinhamento entre etapas e a negligência em considerar o tempo necessário para fornecedores atenderem a demanda, aprovações internas e imprevistos são falhas que comprometem a execução e geram estresse nas equipes. Na nossa atuação, temos reforçado com nossos clientes que um bom cronograma não é apenas uma ferramenta de organização, mas um instrumento de proteção contra riscos operacionais e reputacionais. E quando falamos em reputação, estamos falando de um ativo intangível que, uma vez abalado, exige muito tempo e esforço para ser reconstruído.
A gestão de riscos também se conecta diretamente à sustentabilidade das OSCs. Essas organizações operam em ambientes voláteis, com desafios inesperados e recursos limitados. Por isso, a capacidade de antecipar e mitigar riscos é fundamental para garantir a continuidade das operações e o cumprimento da missão institucional. O compliance, nesse contexto, surge como um aliado estratégico. Ele não se limita ao cumprimento de normas, mas atua como um sistema de integridade que orienta decisões, fortalece a cultura organizacional e protege a entidade contra ameaças externas e internas. Aqui na Associativa LGRC Consultoria, temos trabalhado com nossos parceiros na construção de sistemas de compliance adaptados à realidade do terceiro setor, com foco em simplicidade, eficácia e alinhamento com os valores da organização.
A identificação de riscos é o primeiro passo nesse processo. Ela exige uma análise detalhada de todas as operações, desde a captação de recursos até a entrega dos serviços. Cada atividade carrega riscos específicos que podem ser financeiros, legais, operacionais e de imagem, por exemplo, e é preciso mapear esses riscos com precisão para que se possa agir de forma preventiva. A partir daí, entram os planos de contingência, que devem ser realistas e detalhados, permitindo respostas rápidas em caso de crises. A criação desses planos fortalece a resiliência institucional e assegura que, mesmo diante de adversidades, a organização possa continuar operando e servindo suas comunidades.
Outro aspecto que consideramos essencial é a educação continuada. A formação de colaboradores, voluntários e gestores em temas como compliance e gestão de riscos é uma das formas mais eficazes de criar uma cultura organizacional voltada para a prevenção. Workshops, seminários e cursos devem ser incentivados como parte da rotina institucional. A informação é uma poderosa aliada na mitigação de riscos, e quanto mais capacitada estiver a equipe, mais segura será a trajetória da OSC.
Nos últimos anos, temos dedicado um tempo especial em nossa atuação aqui na Associativa LGRC para capacitar gestores, líderes comunitários, conselheiros e diretores de associações sobre a importância de implementar, ainda que em uma versão minimizada, procedimentos de compliance, gestão de risco, transparência e mecanismos anticorrupção. Nosso objetivo é fornecer ferramental útil, prático e simples de aplicar e usar, a fim de criar uma estrutura mínima dentro das organizações capaz de evitar riscos jurídicos e institucionais, garantir a coletividade e legitimidade das decisões internas e aumentar a assertividade das ações, aliando resultado e propósito.
Por fim, é importante destacar que a gestão de riscos envolve métodos e ferramentas que podem ser adaptados à realidade de cada organização. Técnicas como brainstorming, Delphi, análise de cenários “What if”, os “5 porquês”, checklists, APR, FMEA, HAZOP e análise documental são recursos valiosos para prever e identificar riscos. A avaliação do valor do risco, por sua vez, pode ser feita por meio de modelos qualitativos, que consideram a experiência do gestor, ou quantitativos, baseados em cálculos. A hierarquização dos riscos, considerando probabilidade de ocorrência e impacto, é essencial para definir prioridades e alocar recursos de forma inteligente. Afinal, como sempre reforçamos na Associativa LGRC Consultoria, o controle não pode custar mais caro do que o benefício gerado por sua implementação.
A gestão de riscos, portanto, não é um luxo ou mera burocracia; é uma necessidade estratégica. Ela protege, orienta e fortalece as OSCs em sua missão de transformar realidades. Aplicar técnicas da gestão de risco no planejamento do seu projeto pode ser a chave para garantir resultados melhores, satisfação interna e de patrocinadores, além de ampliar seu impacto na sociedade. E quanto mais cedo for incorporada à cultura organizacional, maiores serão as chances de sucesso, legitimidade e sustentabilidade.
Referências
BRASIL. Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014. Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 jul. 2014. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/norma/584830/publicacao/15617411. Acesso em: 04 nov. 2025.
BRASIL. Decreto nº 8.726, de 27 de abril de 2016. Regulamenta a Lei nº 13.019/2014, que trata do regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 abr. 2016. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/d8726.htm. Acesso em: 04 nov. 2025.
LUSTOSA, José Patrício de Figueiredo. Feliz mundo novo: nas terras do Itaberabuçu, um verdadeiro tratado de ciência política. Belo Horizonte: Páginas Editora, 2021. 154 p.
Gostou desse texto ou quer saber mais sobre esse assunto? Deixe nos comentários.

